sábado, 31 de maio de 2008

Fichamento de Texto: KRAUSE-VILMAR, Dietfrid. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação

1) A negação do Holocausto como tema de discussão:
Passado algum tempo, pouco mais de uma década, após o fim do segundo conflito mundial, a negação dos assassinatos em massa realizados pelo nacional-socialismo ganhou a cena, não somente nos estudos históricos e das demais ciências humanas e também as tecnológicas, mais também nos tribunais em grande parte da Europa e nos Estados Unidos.
A negação pública dos crimes nazistas, que mais tarde foi chamada de Revisionismo – por seus adeptos pretenderem, segundo eles próprios, revisar a história – iniciou por essa vertente não negando que tivesse ocorrido a matança em massa por uso de gás tóxico ou asfixiante, a princípio, apenas relativizando as declarações das testemunhas da época, relativização essa que, seria passagens fluidas para as negações desses eventos.
No entanto, com o passar dos anos, as negações tornaram-se cada vez mais abrangentes e irracionais e simplesmente, inegáveis. Por isso, segundo o autor “devemos nos ocupar da negação dos assassinatos em massa, pelo fato de que a monstruosidade dos crimes nazistas impõe-nos compromissos permanentes”. (p.1 §1)
Alegações como que a situação que reinava nos campos de concentração, não era de responsabilidade dos membros da SS, mas sim, primordialmente pelos prisioneiros que por ela haviam sido nomeados pela administração dos campos e pela vida dos demais prisioneiros, começaram a surgir a partir dos revisionistas. Esses mesmos negavam outros pontos bastante comprovados pela historiografia mundial como o número de pessoas assassinadas, as técnicas usadas no extermínio, os documentos e figuras históricas que foram apresentados, os locais dos campos de morte e a existência das câmaras de gás.
Declarações como o questionável relatório Leuchter (documento baseado em amostras de pedras e rochas retiradas de Auschwitz que tentou negar a ocorrência de assassinatos nas câmaras de gás) surgiram, sendo bravamente refutadas. Essas declarações provocam grande impacto na opinião pública e ganham espaços nas mídias sensacionalistas, por isso, muitos negadores desses crimes foram levados a condenações.
O cerne das afirmações dos revisionistas consiste na negação do assassinato em massa dos judeus europeus. Questiona-se também a culpa dos alemães pela guerra e a dimensão dos crimes cometidos por eles, afirmando também que a II Guerra Mundial teria sido imposta aos alemães a partir de fora.
Muitas declarações dos revisionistas não negam totalmente tais eventos, e sim, desdenham e diminuem um determinado acontecimento, possibilitando relativizá-los e dessa forma não negar a história. Alguns exemplos: o aumento indiscriminado do número de vítimas alemães; a perseguição aos judeus como medidas de anti-espionagem e anti-guerrilha numa situação de guerra; afirmação de que os líderes nazistas desconheciam o extermínio dos judeus e que esses exageravam o ocorrido em busca de reparações financeiras, sendo também pertencentes a uma conspiração judaica mundial (percebemos o caráter anti-semita nas declarações a ainda aquele estereótipo do judeu ávido por dinheiro).

2) Os níveis de argumentação dos negadores de Auschwitz:
O revisionismo é marcado pela complexidade para desvendar algumas declarações e discrepâncias nessa atividade, onde encontramos lendas e invenções facilmente refutáveis ao lado posicionamentos críticos e de aspectos específicos que demandam conhecimento para rejeitá-los. Essa atividade tornou-se uma enorme rede internacional contando com inúmeras publicações, realização de conferencias e intensiva utilização da internet pra disseminá-las.
Os revisionistas também promovem uma inversão daqueles que são possidentes da verdade, alegando que os testemunhos dos criminosos teriam sido obtidos sob tortura e outras formas de extorsão, considerando-os sem valor, enquanto os perseguidos aparecem como mentirosos e criadores de fantasias e exageros.
Esses estudiosos alegam a suposta existência de uma declaração de guerra judaica feita antes da II Guerra, insinuando que a Alemanha teria sido vítima e não autora dos crimes. Todas essas declarações são apresentadas por eles com bases empíricas, no entanto, são utilizados documentos sem garantias de conteúdo autentico, sendo feita uma descontextualização de documentos e alguns fatos históricos, excluindo deste material, o conteúdo histórico-político documentado de maneira correta. Eles transformam documentos isolados em documentos-chave ou transformam afirmações de testemunhas, algumas vezes contestáveis, em relatos-chave, afirmando que declarações dos oficiais da SS teriam sido obtidas mediante extorsão, e a de prisioneiros como desqualificadas como sendo inteiramente não confiáveis, modificando os possuidores da verdade. São capazes também de desconsiderar os diários e as declarações dos líderes nazistas que descreviam o extermínio detalhadamente.
A fonte material de que dispõem deve ser descrita como escassa ou estreita – vários deles compartilham mesmos textos-base, muitas vezes literaturas exclusivamente anti-semita e sem importância histórica. São claramente conotadas de motivos anti-semitas com uma linguagem marcada pelo ódio e pelo desprezo com um nível lingüístico de argumentação dessas pessoas compostas muitas vezes de frases e expressões de origem anti-semita caracterizadas pelo ódio, não sendo eruditas e sóbrias, e sim desapropriadas a um discurso que busque um distanciamento analítico.
O foco das afirmações dos negacionsitas é o campo de concentração de Auschwitz, no entanto outros são tematizados como de passagem e sistematicamente negados tais como: a perseguição aos judeus antes do início da guerra; os homicídios através da eutanásia; o tratamento dispensado aos prisioneiros de guerra, principalmente os soviéticos (o horror dos campos de concentração); os assassinatos em massa praticados em outros campos de extermínio; e o assassinato de outros grupos de prisioneiros como os ciganos, os homossexuais, prisioneiros políticos e testemunhas de Jeová.

3) O problema das fontes históricas disponíveis:
Essa vertente de estudiosos continuam a negar tais eventos mesmo diante de provas inegáveis. Além dos relatos das testemunhas diretas, existem, em correspondências da SS e em outras fontes preservadas, evidências suficientes do assassinato em massa provocado por gás asfixiante, mesmo sem esquecer que próximo ao final da guerra, a SS, deslocou efetivos para apagar os vestígios das atrocidades cometidas por eles. Algumas dessas fontes são as fichas de trabalho de trabalhadores civis em Auschwitz, que informam sobre os serviços de manutenção e reparos nas câmaras de gás; a visível capacidade dos enormes crematórios e os relatos feitos por prisioneiros que fugiram de Auschwitz durante a guerra. Com isso, a afirmação dos revisionistas, segundo as quais as informações sobre os assassinatos em massa seriam invenções fabricadas no pós-guerra, ficam refutadas, sem sombra de dúvidas.
É uma obrigação de todo o ser humano jamais deixar que tais crimes contra a humanidades sejam esquecidos e tampouco contrapostos de forma tão grosseira, de modo que o esquecimento e a negação dessa monstruosidade tornam-se um passaporte para novas cadeias de eventos do mesmo caráter, conforme podemos perceber nos últimos anos, ainda, felizmente, longe da magnitude dos horrores praticados durante a II Grande Guerra.

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