domingo, 15 de junho de 2008

Fichamento de Texto: GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Sol Negro: cultos arianos, nazismo esotérico e políticas de identidade. São Paulo: Madras, 2004.

Na década de 50, o neonazismo começou a tomar forma. Como movimento típico de países centrais, ele fora motivado nos Estados Unidos pela oposição branca aos direitos civis para negro e uma maior integração dessa fração da população na sociedade em geral, como por exemplo, o uso de um transporte integrado independente da cor do usuário. Na Grã-Bretanha os grupos neonazistas surgiram em resposta aos crescentes níveis de imigração de pessoas de cor a partir do final dessa década. À medida que os negros americanos começaram a se beneficiar da legislação dos direitos civis e os imigrantes passaram a estabelecer-se politicamente na Grã-Bretanha na década de 80, os grupos neonazistas sugeriram que o domínio racial branco estaria ameaçado.
Como identifica o autor, essa extrema-direita racial que logo chegaria à política com resultados eleitorais expoentes, não cresceu a partir exclusivamente desse sentimento de ameaça pela etnia branca. A partir da década de 60, os grupos de poder negro e críticos radicais exigiram o reconhecimento oficial do negro como minoritário, demandando assim uma ação compensatória por parte do Estado. A institucionalização dessas exigências levou a vastos programas de oportunidades iguais e ação afirmativa na provisão de serviços públicos, empregos e educação para favorecer negros americanos e programas de quotas raciais. Os efeitos discriminatórios dessas políticas sobre os brancos causaram certo ressentimento por parte desses e a concessão de privilégios baseados na raça estimulou o crescimento da extrema direita racista.
Partindo para outro campo de discussão, o autor analisa os cultos arianos e o nazismo esotéricos como mitologias para negar o declínio do poder branco no mundo, em virtude da ascensão de grupos raciais inferiores (negros, judeus, latinos e muçulmanos). Apoiados em promessas milenaristas e filosóficas, acreditam que as raças européias, brancas, estão temporariamente incapacitadas pelas tais influencias estrangeiras, de exercer o domínio branco sobre o mundo.
Surgem então duas vertentes de neonazistas. Uma primeira, mais antiga, na qual tem George Rockwell como expoente, segue modelos nazistas e uma narrativa épica da Segunda Guerra Mundial para se opor ao liberalismo do pós-guerra, com os judeus como seus principais arquitetos, e aos negros como a continuidade de antigos e intermináveis conflitos. No entanto, uma nova vertente vem ganhando espaço com um discurso de afirmação da identidade branca – ou reafirmação – mas apoiadas num novo nacionalismo como uma cultura de resistência às forças da globalização e de imigração. Desse modo o culto ariano de identidade branca é mais presente nos Estados Unidos, onde os desafios do multiculturalismo e da imigração terceiro-mundista são maiores.
O problema da imigração americana e suas negativas conseqüências já eram previstas desde o fim da I Grande Guerra, e atualmente o inevitável eclipse do mundo ocidental branco é um problema mais grave, uma vez que a falta de controle dessas ondas migratórias provoca a majoritariedade de imigrantes ilegais.
Uma vez migrados - sejam para os Estados Unidos com suas exceções quanto aos negros, ou para a Grã-Bretanha, como o melhor exemplo europeu - esquecendo-se o modo de como o fizeram, o problema maior passa a ser a assimilação desses no país. Isso requer uma política de bilingüismo e multiculturalismo no sistema educacional e no cotidiano em geral. Benefícios institucionais antes restritos aos negros expandem-se aos imigrantes, colocando lado a lado negros e brancos. Os direitos humanos internacionais sobre noções de soberania nacional também levou a uma erosão da cidadania, pela qual os estrangeiros clandestinos recebem benefícios do bem-estar social, educação e subsídios do governo. O processo de miscelânea cultural, ou aculturação ocidental, aumenta o embate. Longe de terminar, ainda têm os legalizados, acusados de sobrecarregar os sistemas de saúde, educação e previdências, são também vistos como responsáveis pelo desemprego dos nativos. Os domiciliados por sua vez, não vêem os ilegais com bons olhos.
Disso resulta uma situação curiosa. O multiculturalismo é promovido por agendas políticas liberais e de esquerda, na busca pelo apoio das cada vez mais numerosas minorias, ao lado, da renovação do vigor da extrema direita a partir da década de 80. Esse último aspecto deve-se a uma nova geração de neonazistas, acomodada em grupos racistas de skindheads e através de elementos culturais como a música, que se transformam em verdadeiras religiões cultuadoras da identidade branca, à medida que níveis crescentes de imigração para países ocidentais ocorrem provocando dificuldades no que concerne ao multiculturalismo e assimilação desses novos moradores. Esse ressurgimento é paralelo ao envelhecimento da primeira geração de líderes neonazistas do pós-guerra, aonde a lembrança do desafio do Eixo ao liberalismo ia ficando para a História.
Os desafios do multiculturalismo nos Estados Ocidentais são grandes, uma vez que esse está levando a uma hostilidade ainda mais difusa contra o liberalismo e entre grupos etnicamente diferentes. O exemplo das negativas ocorridas na Iugoslávia e na URSS, esses cultos arianos e o nazismo esotérico podem ser documentados como sintomas iniciais de grandes mudanças desestabilizadoras nas democracias ocidentais.

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