sábado, 7 de junho de 2008

Resenha do Livro: FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. São Paulo, Record, 2003.

Anne Frank nasceu em 1929, na Alemanha, filha de um banqueiro e de uma dona de casa, ambos de origem judia. Aos quatro anos de idade, Anne foi obrigada a sair do país com sua família, encontrando inicialmente uma vida segura e confortável em Amsterdã, após a chegada de Adolf Hitler ao poder em 1933. Já em 1942, com a perseguição aos judeus deflagrada também na Holanda, após a tomada dos Países Baixos pelo III Reich, Otto Frank, sua mulher e filhas unem-se a mais quatro pessoas e decidem se esconder dos invasores alemães. Por mais de dois anos, até serem delatados, eles tiveram de viver dias aterrorizantes e toda a tensão da Segunda Guerra Mundial, limitados ao anexo do sótão do escritório de Otto Frank.
No esconderijo, o diário de Anne era o único instrumento de liberdade que ela possuía, e, nele, relatou a vida cotidiana do Anexo Secreto, as transformações sofridas por cada um dos que ali residiam e a angústia daqueles dias. Ele destaca sentimentos, aflições e pequenas alegrias de uma vida incomum, a transformações da menina em mulher, o despertar do amor, a fé inabalável na religião, e revela a rara nobreza de um espírito amadurecido pelo sofrimento. Quando encontrados, os moradores foram levados para uma prisão holandesa e posteriormente para um campo de triagem de judeus, Westerbork até serem transferidos para Auschwitz. Anne Frank fora em seguida transferida com sua irmã Margot, para o campo de concentração Bergen-Belsen, onde morreu de tifo, no inverno de 1945, aos quinze anos de idade.
A história começa em 12 de junho de 1942, quando a jovem Anne Frank ganha de presente de aniversário um diário. A partir desse dia a menina relata os seus sentimentos, pensamentos e tudo o que ela faz. Começa descrevendo sua vida bastante comum para uma garota de sua idade. Fala de suas amigas, da escola, dos seus pretendentes, família e passeios. A princípio nada de diferente para uma menina de treze anos, mas no decorrer de suas anotações percebemos uma preocupação em função do anti-semitismo que agora se fizera presente na Holanda e suas conseqüentes restrições, e com o planejamento de uma iminente fuga junto da família, o que faz seus pais se desfazerem de alguns móveis e objetos de valor para angariar fundos visando o incerto período que ficariam escondidos.
Quando sua irmã recebe uma notificação da SS a família resolve antecipar o plano de fuga. Com a ajuda de amigos, a família Frank reúne apenas alguns itens de mais necessidade e deixa a casa, de modo que não desconfiem que a família esteja fugindo. É nesse momento que Anne Frank deixa uma vida boa e confortável ao lado sua família para abrigar-se num esconderijo improvisado nos fundo do escritório de seu pai.
Quando chega ao Anexo a história torna-se ainda mais comovente. A difícil adaptação a uma vida de limitações e do difícil convívio com sua família e com outros quatro amigos judeus – os três van Daan como os chama, mas van Pels na verdade e o dentista Albert Dussel (Fritz Pfeffer) – também escondidos que resulta em constantes conflitos e discussões, estão muito presente em seus desabafos. No esconderijo todos vivem uma vida de abdicações de conforto e de privacidade com o inalterável medo de serem descobertos e delatados as autoridades nazistas e ou colaboracionistas holandeses, fazendo então silêncio, e tomando várias precauções para que isso não ocorra.
Os habitantes do Anexo Secreto, como Anne gosta de chamá-lo, necessitam da ajuda de alguns funcionários e amigos do escritório para o abastecimento de comida e para suprir a carência de algumas peças de vestuário, que ficavam numa situação degradante com o passar dos meses. São eles que arriscam suas vidas para levar alimentos e materiais higiênicos para os escondidos quando o estoque inicial vai acabando. Anne descreve o racionamento de comida pelo qual todos os holandeses passam, com a necessidade da utilização de talões para adquirir comida. Para eles evidentemente, é necessário que utilizem o mercado negro, através dos amigos do escritório Miep, Bep, Sr. Kugler e Sr. Kleiman, para consegui-los com constante elevação de preços. Difícil também era a preparação de comida, em função das restrições e escassez de certos itens, provocando uma grande falta de variedade e invariáveis repetições no cardápio.
Os piores momentos vividos eram os dos ataques aéreos a Amsterdã. Com o barulho das sirenes que o anunciavam os moradores ficavam apavorados, principalmente quando seguidos por tiros de armas e de canhões. Outra preocupação eram os assaltos realizados ao escritório e que conseqüentemente descobrissem o anexo, pois como Anne descreve muito bem em várias passagens, a sociedade viveu um período degradante de sua história, com famintos e desabrigados pelas ruas ao lado de delinqüentes que se aproveitavam da situação para roubar.
A jovem descreve toda a conjuntura da guerra com impressionante fidelidade. Com as notícias trazidas do mundo real pelos amigos ou ouvidas pelo rádio – este como o maior portador de notícias ao grupo e o elo de ligação deles com o mundo – descrevia as batalhas, as invasões, as tomadas de territórios pelos Aliados, as frustrações com o conflito com as baixas destes, a esperança com a resistência dos russos e as derrotas alemães. Marcante é o anseio desesperado pela invasão inglesa e o depósito de toda confiança e esperança nos neles como sendo aqueles que poderiam dar fim ao conflito e a perseguição aos judeus, ou seja, trazer de volta o passado fraterno. Isso é comprovado através de toda a alegria e o otimismo do “Dia D”, o desembarque inglês na costa da França e com o andamento dos russos para o oeste do continente.
Anne também deixa transparecer todo o seu lado humanitário, com a preocupação para com os outros judeus que não puderam se esconder e com os cidadãos holandeses, pelos quais tem grande apreço, e que também sofrem com a guerra. Relata os episódios comuns ao conflito, os quais já temos conhecimento, como as sabotagens, as resistências jovens e os trabalhos forçados aos quais os homens eram arregimentados, com toda a emoção e com o ponto de vista de uma vítima do conflito mundial. Anne também descreve seu desejo de tornar-se uma cidadã holandesa, já que sua nacionalidade alemã fora retirada por Hitler, mas tem medo diante da mudança de atitude dos holandeses para com os judeus, que segundo ela, o acolheram muito bem. A menina que deseja ter a Holanda como sua pátria, tem medo de ter que deixá-la após o conflito.
No lado pessoal, ela vive uma instabilidade comum a uma menina adolescente com seus típicos problemas de mentalidade, sociabilidade e sexualidade, tudo em profundas mudanças. É confusa quanto a seus sentimentos e assim fica com a descoberta do amor. Descobre em Peter van Daan– o filho dos amigos de seus pais que estão no esconderijo – uma pessoa que passa pelos mesmos problemas que ela e por ele sente uma mistura de amor, amizade, solidariedade, consolo e paixão, mas sem saber ao certo o que sente na verdade. Anne tem uma personalidade forte e difícil de lhe dar, tem crises temperamentais e existenciais, mas cresce, admite seus erros e seu temperamento difícil, e amadurece.
Ela tem saudades do passado, dos tempos anteriores a vida no esconderijo, tem o desejo de liberdade, de fazer as coisas como andar de bicicleta e de passear ao ar livre – a menina admira muito a natureza, o céu, a lua, a brisa sempre que pode – e de estar com amigos. Mas tem um forte apego na religião, coragem – não deixa de estudar como uma necessidade e como uma forma de passatempo –, perspectivas para o futuro e planos para o dia que saírem do esconderijo. No entanto, em alguns dias o otimismo e a esperança dão lugar à tristeza e ao pessimismo, e a menina chora sozinha em sua cama ou trancada no banheiro. Contudo, toda a expectativa da jovem menina foi em vão, pois sua vida foi abreviada antes de completar dezesseis anos de idade, num campo de concentração, pelos insanos planos do nazismo de Hitler.
O Diário de Anne Frank é mais do que um livro. É uma lição de vida, um relato emocionante de um dos períodos mais tristes e degradantes da história da humanidade. Com as palavras da jovem menina, o leitor vive junto de toda a população do anexo, toda a tensão e o andamento da Segunda Guerra Mundial através da visão das vítimas do conflito, que são completamente diferente das palavras escritas nos livros que abordam o assunto, pois são carregadas de emoção, sinceridade e principalmente, experiência. O diário mostra o caos e o estado de calamidade que a Europa viveu durante o conflito, com roubos, invasões, crises de abastecimento, racionamentos e mercado negro. Apresenta também todo o horror da perseguição e das atrocidades cometidas contra os judeus e toda a repulsa dessa gente a Adolf Hitler e a Alemanha, uma vez que seu sofrimento fora aumentando gradativamente à medida que Hitler adquiria mais poderes, não somente sobre a Alemanha, conforme sabemos através da fuga da família Frank de seu próprio país quando o führer chega ao poder, mas também quando ele se apodera de meia Europa.
Um documento que faz o leitor sofrer e torcer junto com os personagens e perceber o quão difícil foram àqueles tempos, e tamanhas foram às barbáries cometidas à humanidade por parte de uma pequena fração insana desse todo. Aclamado até os dias de hoje pela crítica, como um dos livros mais importantes do século XX, é uma obra antológica que deve ser lida por todos, para que a humanidade jamais se esqueça da brutalidade e da crueldade cometida e propagada pelo Nazismo e para que não permita que nenhum episódio semelhante tenha uma repetição na história e para que outros diários desse tipo não sejam mais escritos.

3 comentários:

EDIMAR SUELY disse...

Passando para conhecer seu interessante espaço e desejar um lindo sábado e paz.

Smack!

Ediar Suely
jesusmiharocha.blig.ig.com.br

Unknown disse...

Mto bom ... obrigado por postar aew ..

Pamela Lima disse...

Nossa que resumo em!
Anos depois eu faço um comentário.
Muitas pessoas abandonam o blog, espero que você ainda esta no controle!

Este livro é o meu predileto em termos de Holocausto, por ser uma copia um pouco mais recheada do própria diário da Anne.
Que me surpreende mais nesse livro é que tudo realmente foi vivido e não foi num tempo muito distante daqui.
Este foi o primeiro livro sobre Holocausto que eu li e quando fui ler outros percebi que as caracteristicas dessa épocam desta tragedia, ja haviam sido bem discritas por Anne.

* Não deixe de postar!!

Fiz uma resenha também sobre o mesmo livro!
Visite me!
http://paminblog.blogspot.com/2011/08/resenha-o-diario-de-anne-frank.html